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Interior


Uma coisa bonita é quando pergunta: qual é o seu interior? Como se houvesse uma cidade aonde pudesse voltar a cada temporada, um lugar de pouso, descanso e rememória.

Feita em modo de conversa, o objetivo não é descobrir nenhuma qualidade pessoal ou radiografar a natureza morfológica de nossos órgãos vitais, se de fato existem ali dentro da caixa torácica pulmões, fígado e coração.

A pergunta quer simplesmente entender de onde você vem. Parte da certeza de que você é daqui, de Fortaleza, mas chegou à cidade vindo de outra, perto ou distante, e dela carrega algo, uma lembrança, uma experiência, um conjunto sensorial diverso ao qual recorre quando precisa entender do que é feito.

A maneira como é formulada, portanto, já pressupõe que, embora viva nesta geografia, o seu interior é outro. Para onde você volta, então?

A essa paisagem afetiva e geográfica. O seu lugar de origem, seja a própria, seja a familiar. Se você não tem, seus pais ou avós devem ter.

Quando criança, os amigos mencionavam com frequência esse interior, do qual retornavam depois das férias cheios de histórias de banhos de açude e galopes em cavalos por terreiros a perder de vista.

As minhas eram outras, todas da cidade, nenhuma habitada por essas figuras. Não tinha raiz noutro lugar, era aqui. Também não podia retornar. Estava preso ao pedaço.

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