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Mostrando postagens de setembro 15, 2014

O filme que está passando agora

Esta não é a mãe do Teddy. Talvez até seja a mãe de alguma pessoa.   E para que ninguém fique pensando que outra pessoa, por pura negligência minha, conseguiu a senha do computador e do email e escreveu tudo antes, narro agora Eventos da Madrugada, como a cena final do filme que está passando. Nela um ursinho de pelúcia chamado Teddy tira do bolso uma mecha do cabelo de uma mulher e então o menininho, que estava conversando com os extraterrestres, pelo menos acho que é isso que eles são, o menininho faz um pedido, ele quer a sua mãe de volta e é exatamente isso que eles fazem, trazem a mãe do garoto de volta à vida. Eu não sei o que acontece com o urso Teddy. Na rua, as bandeiras da Copa do Mundo tremulam produzindo um barulhinho bom de chuva, até confundo com chuva quando quero confundir, ou com mar se estou num desses dias românticos. Por um segundo a gente esquece que mora no apartamento X na Rua Y no bairro Z e concentra o pensamento numa duna móvel, em chuva e á

O de sempre, por favor

Acontece que o Pessoal de Sempre não costuma ter medo ou se tem consegue escondê-lo de modo que mais ninguém exceto os muito próximos saiba que há por ali qualquer coisa parecida com medo, e nisso eles são bons, realmente muito bons, esconder o medo. Os caras também são bons noutra porção de coisas, como alquimicamente transmutar covardia em coragem e pajelança em militância. É incrível. A maior indústria de hoje não é a calçadista nem a de turismo tampouco a sexual. A maior indústria hoje é a da conveniência. Mas quem sou, covarde, conveniente e atipicamente um cara que não gosta tanto de beber, para falar de quem quer que seja, sobretudo se o alvo é o Pessoal de Sempre. Assinado: o neto do maitre. 

Anedota

Agora uma anedota de cor local. Fui até o bar e no bar encontrei o Pessoal. O Pessoal estava acompanhado do Pessoal de Sempre. Fiquei em pé, afinal tenho lições e comida por fazer e lá não aceitava cartão, de modo que dei dois tapinhas nas costas dum amigo e segui viagem. Mas antes coletei uma amostra da atmosfera e o que encontrei me deixou surpreso, moléculas de cinismos, substâncias pegajosas que tudo leva a crer podem ser atribuídas ao clima de eleição e, consequentemente, à maneira como cada um lida com as verdades que cozinhamos em banho Maria no forninho da sala de casa. O relatório completo indicava ainda que o principal elemento em suspenso no ar do bar, esse ar que tanto o Pessoal quanto o Pessoal de Sempre respirava, era o medo. Sei lá, achei estranho tudo isso e resolvi compartilhar com vocês. Medo era a última coisa que esperava encontrar ali, logo agora, que as eleições estão perto de terminar e a turma está afiada no discurso, não é mesmo? Assina

O amor segundo os números

Se é assim, não há quem explique os números primos, distantes que estão do racional, mera sequência de algarismos com que se contam os pães da manhã, as horas gastas no conserto do ventilador e as calorias ganhas ou perdidas nas atividades domésticas, a nada disso os primos se prestam. Soltos, sozinhos, divisíveis apenas por si e um, ou seja, partilhando com mais ninguém exceto eles mesmos o pouco que sabem a respeito de nada. A vida é um número primo. A morte, uma fração. O amor, dízima periódica. 

Cadeia de eventos

E se, ao religarem o LHC amanhã ou depois, o que encontrarem não for de fato o que procuram, mas outra coisa, uma dessas coisas que a gente encontra quando não está procurando, esse tipo de coisa que ninguém quer encontrar realmente mas acaba encontrando, seja porque encontrá-la é uma fatalidade, seja porque não encontrá-la é talvez ainda mais improvável? E se, ao plugarem na tomada o grande colisor de hádrons, o outro nome do aparelho, qualquer coisa de muito estranha acontecer, tão estranha a ponto de não sabermos defini-la? Imaginem as caras de surpresa dos cientistas olhando essa coisa por horas e horas sem saber ao certo se estão olhando qualquer coisa ou se o que veem é apenas algo como Nancy Sinatra dançando. Imaginem a dúvida porejando na testa suada: essa coisa existe mesmo? E nada disso pode ser respondido antes que religuem o LHC, talvez nem depois.