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Mostrando postagens de abril 25, 2014

Cicatriz de vacina

O problema todo era uma “cicatriz de vacina”, disse o médico, uma dessas bem comuns, redondas ou arredondadas, que praticamente nascem com a gente ou quando percebemos estão lá desde sempre, uma marca no braço esquerdo ou direito, a sua é no direito, a minha é no esquerdo, mas isso na verdade não importa tanto, apenas que fica a meio caminho do cotovelo e do pescoço, um anúncio barato informando ao mundo que a partir dali fazemos parte disso tudo, um atestado de humanidade, por assim dizer, dor aguda perdida num tempo em que não retínhamos memória de nada, carinho, choro, fome, sede, o que sentíamos imediatamente perdia-se no limbo das sensações vividas a cada dia e cada dia era novo não por força da vontade mas por imposição do corpo.  Uma cicatriz de vacina, repetiu, agora mirando algum ponto na parede, ironia da vida, mal nascemos e já precisamos nos precaver contra a vida, não exatamente contra a vida, argumentei, contra a vida mesmo, protestou o médico, a doença é parte dela, a