Gosto e desgosto da festa de fim de ano. Os fogos, sim; a passagem, não. Tem uma explicação. Quando criança, uns cinco anos, a mãe convidou pra ver o ano passando. Era 1986. Me chamou no quarto e disse desse jeito: venha ver o ano, meu filho. Eu fui. Afinal, queria ver o que se passava quando um ano acabava e outro começava. Na minha cabeça, era visível esse momento no qual um período de 12 meses entregaria a outro a responsabilidade pela sorte de todos e depois seguiria pra casa, alquebrado mas satisfeito porque finalmente conseguira dar entrada nos documentos para se aposentar – sob a gestão de Temer, imagino que os anos tenham mais dificuldade de finalmente cumprirem sua cota de contribuição. Acompanhei minha mãe pelo corredor até a rua. Eu esperava que essa passagem do ano fosse um pouco como o crepúsculo. O sol caindo ou nascendo, a escuridão chegando ou indo embora, o céu matizado de laranja. E finalmente o dia ou a noite, plenos. Ou seja, um fenômeno que eu pudes
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)