É uma tarefa borgiana, eu disse, e me referia sobretudo a percorrer corredores repletos de lembranças e neles encontrar portas que se abrem para outras portas, que contêm outros corredores e novas portas que dão para jardins vazios, amplos espaços nos quais mal ouvimos o som que produzimos. Uma sucessão de elos que se ligam a outros elos, bibliotecas, livros, portas e janelas, pessoas às voltas com pessoas sem nome nem destino. Alguém que aspira de leve o ar e sente que está perto de encontrar o que procura. Portas sem maçaneta, entreabertas, janelas que não se fecham, bancos e copas de árvores que filtram a luz do sol. A luz coada do sol incidindo obliquamente sobre os cabelos, o vestido amarelo, as mãos postas sobre as pernas. Um universo borgiano é logicamente concebido pela falta de lógica que preside esse raciocínio segundo o qual há um pensamento por trás de cada coisa, cada coisa ocupando um lugar e cada lugar sendo destinado por natureza a uma ideia da qual não te
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)