A tetralogia de Elena Ferrante é assinada por um nome postiço, um artifício que não desvela um rosto, encerrando-se em si mesmo e instaurando uma interrogação: quem está por trás da história? Quem sustenta a sua linguagem? Quem a escreve? Trata-se de autobiografia, no sentido que lhe atribui Lejeune (2014), ou inteira fabulação, e nisso o pacto mesmo se recombina? Sem conhecê-la, sem haver de sua escritora nada mais que pegadas biográficas que a autora distribui no curso de entrevistas e artigos publicados, que protocolos de leitura são acionados pelo leitor no ato mesmo de fruição da narrativa? E que regime de autoria é mobilizado por esse processo de mascaramento de uma identidade de cuja existência sabe-se quase nada, exceto que se trata de mulher que tem filhos e já morou em Nápoles, cidade ao sul da Itália, um perfil comum a outros tantos? Por fim, cabe interrogar, à maneira de Foucault: importa quem fala? Longe de escamotear subjetividades, a operação de disfarce sob pseudô...
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)