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Mostrando postagens de setembro 2, 2022

A morte e a morte de Elena Ferrante

  A falsa morte da escritora italiana Elena Ferrante, cujo rosto não se conhece, é um desses eventos repletos de leituras, como se de fato obra romanesca. Afinal, se alguém havia morrido (agora já se sabe que se tratava de uma mentira criada por um jornalista contumaz nesse tipo de invenção), quem tinha morrido, a personagem a quem se empresta o nome ou a autora que realiza o ato de empréstimo? Até então, dada a morte como certa, a dúvida parecia simples: quem morre quando Elena Ferrante morre? A questão não é apenas física, mas literária. A morte da autora da tetralogia napolitana e de tantos outros livros de sucesso encerraria um problema de fundo para o qual a literatura tem uma resposta e a vida, outra. A morte suposta de Ferrante pode significar a morte de uma mulher, de um homem, de um homem e uma mulher, de um grupo de pessoas, de um editor, de um “ghost-writer” e por aí vai. Uma morte individual ou coletiva, mas em todo caso incerta, não situada num corpo que se reconhece e se