Texto publicado no caderno de aniversário do jornal O Povo . Pelo chão é que se conhece de verdade, pelo chão é que me conheci. Pelo chão encontrava minhoca para peixes, caneta, cédula graúda, despojos de brinquedos. Pelo chão caía e lacerava joelho e cotovelo, magoava feridas já supuradas, rastejava em brincadeiras de guerra. Pelo chão engordava sonho de beijar na boca. Pelo chão, meu e da metrópole, fui cinzelando um corpo e sopesando a justeza dos sentimentos. Pelo chão se conhecem pessoas, humores e doenças da cidade. O chão sabe ao que trazemos e ao que escondemos. O chão não se alheia; o vento tampouco o enverga. É mais largo que oceanos, mais denso que a luz. Porque homens e mulheres esfarelam num punhado de memórias quando o próprio corpo degenera, às vezes o chão é o amor que resta. Estão enganados todos os que respondem: a pele. O maior órgão do corpo é o chão. É a lonjura atravessada num dia ou numa noite. É morada e experiência. É a vida curtida no desvari
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)