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Mostrando postagens de abril 15, 2014

Chão

Texto publicado no caderno de aniversário do jornal O Povo .  Pelo chão é que se conhece de verdade, pelo chão é que me conheci. Pelo chão encontrava minhoca para peixes, caneta, cédula graúda, despojos de brinquedos. Pelo chão caía e lacerava joelho e cotovelo, magoava feridas já supuradas, rastejava em brincadeiras de guerra. Pelo chão engordava sonho de beijar na boca. Pelo chão, meu e da metrópole, fui cinzelando um corpo e sopesando a justeza dos sentimentos.    Pelo chão se conhecem pessoas, humores e doenças da cidade. O chão sabe ao que trazemos e ao que escondemos. O chão não se alheia; o vento tampouco o enverga. É mais largo que oceanos, mais denso que a luz. Porque homens e mulheres esfarelam num punhado de memórias quando o próprio corpo degenera, às vezes o chão é o amor que resta. Estão enganados todos os que respondem: a pele. O maior órgão do corpo é o chão. É a lonjura atravessada num dia ou numa noite. É morada e experiência. É a vida curtida no desvari

Inventário

O inventário das coisas ausentes , novo romance da Carola Saavedra, que livro. Não porque embaralha os registros ficcionais e biográficos, ou autobiográficos, ou ficcionais sutis e ficcionais escancarados, cada vez mais me confundo quanto aos limites da autenticidade, os limites da ficção, os limites. É bom porque sugere não apenas que inventamos histórias a partir do que não existe, mas inventamos as histórias que existiram, inventamos continuamente, quer os fatos tenham existido, quer não. Não cessamos de inventar. Inventamos e roubamos. Inventamos uma narrativa para cada passado, inventamos um passado diferente para cada etapa da vida, inventamos mesmo quando acreditamos não inventar.  É bom porque os registros, inventados e reais, podem se encontrar em algum momento do desenvolvimento das histórias, mas podem também passar ao largo uns dos outros, sem jamais deixarem de integrar a mesma história, sem jamais confluírem harmonicamente para um final. É bom po