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Mostrando postagens de maio 28, 2015

Trinômio doméstico

Bom, mas, pensando bem ou não tão bem assim, empregar o tempo ou otimizar o tempo ou ainda extrair do tempo a melhor parte, como se se procurasse sempre o sumo das coisas, nunca se satisfazendo com casquinhas ou lasquinhas. Aproveitando cada momento com atividades proveitosas, numa continuidade de prazer que se segue à busca. Isso tem algo da ética protestante do capitalismo.  Segundo essa lógica, desperdiçar o tempo com um livro a fim de entender melhor a vida dos outros seres humanos, o que inclui a sua própria – isso é uma coisa bacana? Talvez não. Melhor seria aprender outro idioma ou melhorar o desempenho em algum jogo no celular ou mesmo amar e brincar ainda mais com os filhos ou alugar uma casa de praia no fim de semana. A vida é curta. Tenho minhas dúvidas em relação às dúvidas das pessoas que não têm dúvidas quanto a essa dimensão pragmática da vida.  Academia, família, trabalho, lazer e, se possível, um pouco de espiritualidade (mandalas ou coisas do

Empregando o tempo

De modo que, enquanto não chega o mês, e mesmo depois de junho, recomendo três livros. “A ilha da infância”, do norueguês maluco que tornou literatura tudo que viu e viveu ao longo da vida inteira. “Meus documentos”, novo livro de contos do Zambra, o chileno fumante autor de “Bonsai” e outras pequenas joias.   “Restinga”, livro de contos do Miguel Del Castilho – estreia incrível, um dos melhores que li neste ano.    E, pra quem quiser e puder e aceitar operar o tempo noutra lógica, indico também “Brasil: uma biografia”. São quatro livros bem diferentes, o último uma alentada obra cujo propósito é, segundo o título mesmo antecipa, biografar um país inteiro e seus habitantes ao longo desses cinco séculos de patrimonialismo, escravidão, guerras e assaltos ao estado. Não é moleza. Li o prefácio e o primeiro capítulo e, bom, o livro é uma novela que se vai devorando, aqui e ali, com um gostinho de aula de história profundamente realista, com os escravos, caravelas

Ainda o tempo

Ainda o mesmo assunto, que não é exatamente o mesmo, mas o mesmo visto com outros olhos, uns olhos assim já meio desconfiados de tudo porque enfim tenho cá meus 34 anos e um pouco de cada fase da vida permanece e cada pessoa que conheci também, de maneira que até o que parece igual soa diferente e o diferente, igual, e digo isso bem sério, sem rir, mas escondendo um sorriso canhoto no canto direito da boca. Tão difícil a vida quando é séria.  Interrompi tudo que estava fazendo, quer dizer, tudo que estava lendo, e sobre isso quero escrever depois, a fragmentação da escrita, da atenção, da leitura, tudo na vida servido em caquinhos, pequenas porções de coisas, prazeres em miniaturas e por aí vai, como se ninguém mais tolerasse a longa espera de 500 páginas e a demorada ausência da desconexão. Parar pra ler soa tão aberrante. Um mês. Inteiro. Dedicado. A um livro. Por vez. Sem pressa. Esse tempo passou. O tempo de agora é outro. Interrompi o que estava fazendo

Conversa

Então o ritmo sossega um pouco e a até a luz se aplaca, como que desfeita ou atrasada. Lenta. Diminuir a velocidade do mundo, convidou. Não é fácil. Não é fácil, repetiam-se, a cerveja parada na mesa e a música ambiente chegando aos solavancos, a mesma música de barzinho cafona acompanhada de teclado e risos e de repente alguém levanta e rodopia e o cantor também entra na dança e  uma ciranda então canta parabéns pra você. Mas o aniversariante não quer festa, está ali porque não tinha alternativa. Os dois continuam a conversar sobre a respiração, o ritmo, a velocidade. Provocam-se de quando em vez. Tocam-se de raspão numa troca de garfos. É um diálogo sem pressa o que ninguém vê.