Semana passada os móveis foram pro conserto e a sala ficou um tanto vazia. Quando chegava em casa, falava sozinho e as paredes respondiam. Sofá e cadeiras precisavam de cobertura nova, a antiga estava ou manchada ou desgastada ou ambas, com marcas de café e comida que alguém deixou escapar das mãos. O homem que veio buscá-los disse que ficariam como novos, que aproveitaria a espuma e o encosto. E se sentou no sofá, estirando as pernas e deitando as costas, como a provar que era realmente confortável aquele conjunto desencontrado de sofá e cadeiras, nada rimando com nada. Mas é assim que trabalham os carpinteiros. Precisam fazer acreditar que o que temos não é totalmente descartável, que aquele braço de sofá é sólido, que a espuma sobre a qual sentamos por anos e anos é das mais resistentes e nem se encontra mais hoje, de modo que será preciso substituí-la por outra, mas preservando parte do material antigo. Uma espuma diferente, apropriada ao tempo em que espumas não têm de
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)