Me parece clara a razão pela qual o caso do desembargador de São Paulo causou um imenso mal-estar a todos nós, que ainda não saímos de vez da quarentena, mas já experimentamos um retorno gradual à vida de antes, o que talvez inclua os problemas de antes, como prova a demonstração de estupidez do douto senhor. Se ainda havia a esperança vaga de que atravessaríamos esse deserto melhores, chegando ao fim do túnel aprimorados como seres humanos que tinham sido submetidos a meses de confinamento e medo, o juiz sentenciou-a à morte. Suas palavras melífluas, o tom entre o calmo e o explosivo, as mãos trêmulas, o impasse instalado e a tensão de um desfecho violento – toda a cena parecia a síntese de um aprendizado que nos devolveu aos tempos de pré-pandemia, despressurizando as crenças de uma suposta benevolência coletiva derivada do aprendizado da doença. E aí, enquanto chegávamos aos 80 mil mortos por covid-19, demos de cara com aquela fala, uma velha conhecida de qualquer um porque vem send
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)