O que faria em Marte em 2025 depois de uma viagem de sete meses sem fazer outra coisa senão pensar no quanto ainda falta para chegar em Marte? Lavrar o solo vulcânico de Marte, que trabalho árduo. Um dia quente em Marte. A súbita suspensão dos ventos. Um fim de namoro em Marte. O luto em Marte. A fome, a sede, a doença, a morte, o parto a uma gravidade de quase 3m/s². A expulsão do bebê dificultada pela força da gravidade terrena dividida por três. No planeta vermelho a gravidade é uma inimiga ainda mais traiçoeira. Eu tentaria localizar o jipe-robô Curiosity no horizonte laranja de um fim de tarde. A lataria da sonda refletindo a luz intensa do sol. O chão esturricado do planeta e seus rios congelados quilômetros abaixo dos nossos pés indiferentes à presente de um bípede em fuga. Mas sinto que, embora próximo, Marte é um planeta distante, inalcançável. Está na zona habitável, mas é como se não estivesse. Marte é e não é. É hostil, e isso diz muito sobre o que
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)