Talvez fosse o caso de descrever a paisagem, falar com calma sobre as pedras, os coqueiros, o movimento hipnótico das hélices girando ao longe, guardiãs de algum segredo escondido por trás das dunas. Como grandes monstros, titãs de prontidão, as pás mecânicas de um ventilador como asas de uma criatura cujo corpo se enterra sob a brancura da areia. Vislumbro as hélices e penso em caminhar até elas, mas é tarde ou cedo ainda, não sei. O sol esquenta as costas, o mato crescido arranha as pernas, vejo uma cerca e me aproximo, mas desisto de continuar. Agora que estou mais perto, ouço o vento cortado, um sulco no ar aberto com essa força fantasmática. Cataventos monstruosos, desses de sonhos intranquilos. Como as hélices chegaram até ali, quem as colocou, o que fazem quando para de ventar? Quem as plantou, de que semente vieram? Parecem ter vida própria, prestes a sair andando num passo longo com o qual me alcançariam ainda que eu corresse em direção à água e mergulhasse de cabeça no fund
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)