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Mostrando postagens de novembro 2, 2021

Fim da livraria

  A livraria fechou, e sobre isso não disse nada, não sei se porque desejei ignorar a notícia ou porque de fato a loja já havia se fechado para mim, de modo que, quando efetivamente cerrou as portas, não sentia mais falta, não era mais um frequentador desde muito. Estive no lugar com assiduidade nos anos de 2010, às vezes pela tarde, noutras pela noite, quando ia em procura de sossego, sem ter motivo aparente ou qualquer objetivo de compra. Chegava às cegas, procurava um canto mais escondido no café, sentava por um tempo e ficava à toa. Cumpria um roteiro que fui construindo a cada visita. Começava no primeiro pavimento, dava uma volta nas estantes de romances, circundava a pilha na entrada e espiava os mais vendidos, sempre disfarçando a curiosidade, com medo de que me confundissem com o tipo de leitor que escolhe um livro porque está em destaque. Depois disso, eu subia as escadas, parava na seção de ciências, de onde saltava para a de quadrinhos e, em seguida, para a de cinema, desce

O pequeno chato

  Será preciso ainda um bom tempo para entender o tamanho do estrago que “O pequeno príncipe” causou ao mundo ao oferecer uma cartilha com falsas lições que se aplicam a qualquer situação, em qualquer tempo, para qualquer pessoa, de modo praticamente inesgotável, prestando-se a todo tipo de aconselhamento. Do fiasco amoroso ao financeiro, da morte de um bicho de estimação a uma catástrofe global, do fim do relacionamento ao vácuo de sentido no mundo virtual, tudo encontra eco no livrinho de Antoine de Saint-Exupéry, que não tem culpa por nada disso. O autor simplesmente escreveu-o e o jogou ao léu, ou seja, fez o que qualquer escritor faz, não sendo responsável pela maneira como cada leitor em cada época irá se apropriar e dar sentido ao que lê. O problema é que, tão logo foi publicado, “O pequeno príncipe” se tornou uma máquina de converter adultos em crianças, não num sentido positivo, como gostaria de ter visto o personagem do livro, mas no negativo mesmo, com a infantilização cam