A livraria fechou, e sobre isso não disse nada, não sei se porque desejei ignorar a notícia ou porque de fato a loja já havia se fechado para mim, de modo que, quando efetivamente cerrou as portas, não sentia mais falta, não era mais um frequentador desde muito. Estive no lugar com assiduidade nos anos de 2010, às vezes pela tarde, noutras pela noite, quando ia em procura de sossego, sem ter motivo aparente ou qualquer objetivo de compra. Chegava às cegas, procurava um canto mais escondido no café, sentava por um tempo e ficava à toa. Cumpria um roteiro que fui construindo a cada visita. Começava no primeiro pavimento, dava uma volta nas estantes de romances, circundava a pilha na entrada e espiava os mais vendidos, sempre disfarçando a curiosidade, com medo de que me confundissem com o tipo de leitor que escolhe um livro porque está em destaque. Depois disso, eu subia as escadas, parava na seção de ciências, de onde saltava para a de quadrinhos e, em seguida, para a de cinema, desce
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)