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Mostrando postagens de março 16, 2021

Carta ao primo

Embora tenha se passado uma semana, só agora pude escrever, não por falta de tempo, mas de coragem mesmo, uma covardia que me impedia de olhar o celular e ler as mensagens, de ligar para a família e oferecer conforto. Falar com o tio, com a tia, com os outros primos, perguntar se estavam bem, estar como que um porto-seguro, mas não sou porto-seguro para ninguém neste momento, a morte por toda a parte fazendo o cotidiano balançar, esboroando qualquer hipótese de normalidade. Demorei a telefonar porque sabia que, no instante em que o fizesse, teria de aceitar essa morte, e não sabia se estaria pronto para isso, para que me dissessem que o primo havia ido embora sem que o visse depois de tanto tempo, que a pandemia o tinha levado, que o menino que minha mãe havia segurado nos braços era hoje um desses números que acompanho todo dia por dever de ofício, numa escalada macabra. Meu primo era um desses, mas era também sangue do meu sangue. As brincadeiras de infância, o jogo de bola, a praia,