Tinha poucos minutos, não mais que dez. Usou de dois a três para fumar enquanto pensava numa ideia boa o bastante para estar no papel, depois sentou na cadeira e começou a dizer o que diria se dissesse algo, o que também não era lá tão novo assim. Pensou nos últimos acontecimentos: tinha parado de fumar, mas voltara. Tinha voltado a beber, mas parara. Tinha interrompido as idas ao cinema e as voltas de bicicleta e tudo que costumava fazer antes e também depois. Em suspenso mesmo os mergulhos no mar, as horas na areia da praia olhando os outros entrarem aos pares, mãos dadas. Um cachorro que passa etc. Agora sofria no quarto, era dezembro e o calor matava. Olha o próprio corpo, em seguida passa a vista na lombada de um livro em cuja capa há pernas e braços entrelaçados contra um fundo branco no qual não se lê o nome do autor. Erotismo. Sente vontade de descrever tudo entre a porta de casa e a faixa de mar, tudo que encontrar no caminho, cada pequena lembrança ass
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)