Nesta semana sonhei com a vó, ou achei que tivesse sonhado, ou gostaria de ter sonhado com ela, não faz tanta diferença assim. O fato de ter desejado sonhar com a vó e sonhar com ela de verdade são no fundo a mesma coisa, ou seja, a expressão da necessidade de conversar com a vó, ainda que em vida a gente não tivesse esse tipo de conversa que só temos com os mortos, entende? É esse o papel dos mortos, ouvir os vivos e permanecer em silêncio até que essas palavras se espiralem e dissolvam no ar feito fumaça de cigarro subindo devagar. Sonhei que sonhava com a vó e ela só fazia que sim ou que não com a cabeça, como num jogo de mistério no qual lançamos perguntas e precisamos de pistas para chegar até as respostas. Era isso que a vó fazia, indicava os caminhos através dos quais eu deveria ir, mas sem realmente se comprometer, de modo que aquele corredor escolhido era inteiramente meu e não dela, aquela porta que eu abria era a porta que eu havia apontado. Nesse sonho a vó não pe
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)