Pai, você acha que eu tô
parecendo um menino?
A filha vestia bermuda e uma
camisa de futebol do Brasil. Olhei. Continuava uma menina, eu disse, apenas
usava roupas que não costumava usar, como aquele short e a camisa que lhe demos
durante a Copa e que agora, neste momento, por razões que ela não entendia,
havia perdido o sentido, o ano 2014 enterrado num passado distante e depois
dele também 2018.
Notei algo, porém. Entendi que
a filha me desafiava a dizer que sim, que ela parecia um menino. Não disse.
Não pareço mesmo?, insistiu.
Não, filha. Continua uma
menina.
Fiquei pensando nisso algum
tempo. Escrevi um parágrafo, depois dois.
A filha é vaidosa, gosta de se
pintar, passar batom. Usa muito rosa, típico da idade, e espalha sombra nos
olhos.
Enfeita-se inteira quando precisamos sair.
Pede ajuda apenas com os
cabelos, que eu mesmo gosto de pentear.
Lembro quando compramos essa
camisa. Uma cópia barata de camelô com o nome do Neymar e o número 10. Agora tenho
certa vergonha, não dela, mas do jogador. Achei que deveria pedir que não usasse
mais o uniforme da seleção, mas acho que não tenho esse direito.
Além do mais, eu teria de
explicar muita coisa que ela não entenderia.
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