O que interessa não tem pressa. Os apressados comem cru, comer cru equivale a comer antes do tempo, uma das características dos que têm pressa é precisamente desejar sempre que algo aconteça antes da hora, a foto do Instagram, por exemplo, envelhecida por artifício e refém de um falso acúmulo da vivência, ou a fotografia da viagem, tomada por qualquer um como datada de trinta ou quarenta anos atrás, mas feita antes de ontem, ou ainda o vestuário, com peças resgatadas dos anos 60/70 vestindo corpos das gerações x, y, z e w. Por contato, por usucapião, por similaridade, por proximidade, o que queremos é que as coisas tenham uma profundidade disposta em muitas camadas que apenas o tempo transcorrido confere. E essa é a mágica de agora: avançar e recuar a tabuleta cronológica. Os tempos são de pressa, de experiência simulada, simulacro do beijo, simulacro do abraço, da festa, da saudade, a gente quer pular algumas etapas e chegar num salto ao que interessa, mas essa eta
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)