O que interessa não tem pressa.
Os apressados comem cru, comer cru equivale a comer antes do tempo, uma das características dos que têm pressa é precisamente desejar sempre que algo aconteça antes da hora, a foto do Instagram, por exemplo, envelhecida por artifício e refém de um falso acúmulo da vivência, ou a fotografia da viagem, tomada por qualquer um como datada de trinta ou quarenta anos atrás, mas feita antes de ontem, ou ainda o vestuário, com peças resgatadas dos anos 60/70 vestindo corpos das gerações x, y, z e w.
Por contato, por usucapião, por
similaridade, por proximidade, o que queremos é que as coisas tenham uma
profundidade disposta em muitas camadas que apenas o tempo transcorrido
confere.
E essa é a mágica de agora: avançar e recuar a tabuleta cronológica.
Os tempos são de pressa, de experiência
simulada, simulacro do beijo, simulacro do abraço, da festa, da saudade, a
gente quer pular algumas etapas e chegar num salto ao que interessa, mas essa
etapa derradeira só é derradeira porque antes dela há outras etapas, algumas
bem chatas, outras mais ou menos.
De qualquer modo é assim que é a regra do
jogo. Acontece que agora a regra do jogo é saber antes de saber, a exibição
precede a posse, a posse precede o enlace, o enlace, a corte.
A corte (vogal fechada), entendida como negociação
não explícita entre as partes, sequer existe.
O que há é corte (vogal aberta),
ajuntamento de sensações que não formam um quadro, nem moldura. É tudo borrado.