No dia do meu aniversário de 41 anos, acordei achando que estava no Titanic prestes a afundar. Não é uma figura de linguagem, tampouco exagero retórico. Parte da casa estava submersa. Enquanto dormíamos, um vazamento no banheiro fizera a água rapidamente se espalhar pelo apartamento, chegando também ao quarto da minha filha. Primeiro, ouvi gotas caindo a intervalos regulares, depois mais rapidamente e finalmente o jorro encorpado. Ainda entre sono e vigília, supus que minha esposa lavasse as mãos, mas era uma da manhã. Não lembro de que tivesse insônia e andasse pelos corredores com desejos de asseio em meio à madrugada, então descartei essa possibilidade, o que me deixou ainda mais preocupado. Levantei de um salto. Dei com a água já a meio caminho da sala, como uma visita inesperada, o que deve ter acionado em mim um instinto de proteção ao qual eu ainda não havia precisado recorrer desde que me tornei pai. A partir daí, agi como um marinheiro a quem fora dada a missão de impedir que
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)