O escritor promissor fabula mundos em desajuste, escolhe cada palavra e talha as frases como artesão cuja graça e rigor são por si um elemento que torna sua arte invejável e parte indissociável da ideia, concebida muito tempo atrás, de que ele seria para sempre um autor de quem se espera mais do que meras noveletas ou histórias melífluas e sem cor, mas o grande romance nacional, a narrativa no centro da qual se processem os maiores dramas e se vislumbrem os impasses da criação.
Ocorre que, nas últimas duas décadas, o escritor promissor vem falhando sempre, surpreendendo pela falta de surpresa com que suas obras se revestem, frustrando sucessivamente a expectativa depositada em seus livros, o que, miraculosamente, não faz arrefecer a certeza quase esotérica de que se trata realmente de um escritor promissor.
Como se por efeito inverso, o fato de que não cumpra o que se supõe que ele prometeu apenas fortalece essa promessa, que se renova a cada novo livro cuja leitura não entrega o grande romance que se esperava viria agora, adiando a obra-prima para daqui a dois anos ou mais, a depender de como esteja a agenda desse grande escritor.
Enquanto isso, o escritor promissor, que, não custa lembrar, é homem, branco, hetero, sudestino e quase sempre publicado por uma grande editora para a qual não faz mais tanta diferença se ele é autenticamente um grande autor ou apenas um escritor medianamente equipado, vai levando tudo com a barriga, esforçando-se como pode e recobrindo cada pequeno ato artístico e escritural como se fosse o gesto preparatório de algo maior, algo que, agora, sim, fará jus ao talento com que se cercou a jovem promessa da literatura brasileira quando a internet ainda engatinhava e ele dava seus primeiros passos – passos esses já repletos de uma expectativa de sucesso incontornável, que, pelo menos até aqui, não se efetivou, ao menos não plenamente.
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