Há obsessões que acompanham uma vida inteira; outras que vêm e voltam, sem arredar pé, intermitentes, acenando numa esquina para logo desaparecer e, em seguida, ressurgir num canto de muro, numa praça, durante a aula, numa sobra de refeição, exibindo um sorriso difícil de compreender, seja porque o conhecemos de muito tempo, seja porque tem sempre algo de renovado mistério. Marte não é desse tipo. A obsessão pelo planeta situa-se a meio passo do diletantismo, a meio da ciência amadora, a meio da falta do que fazer. E se me perguntam por que tenho investido tanto tempo vasculhando bibliografias e fuçando arquivos na internet, respondo, sem traço de vergonha: não sei. Jamais estive tão interessado em planetas como agora, jamais escavei tanta informação avulsa nem fiz pesquisas randômicas a partir de quase nada, motivado apenas por curiosidade, colecionando novidades e esquecendo-as no instante seguinte. É menos que um hábito, mais que interesse passageiro. Esferas rodopiando
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)