Há obsessões que acompanham uma vida
inteira; outras que vêm e voltam, sem arredar pé, intermitentes, acenando numa
esquina para logo desaparecer e, em seguida, ressurgir num canto de muro, numa
praça, durante a aula, numa sobra de refeição, exibindo um sorriso difícil de
compreender, seja porque o conhecemos de muito tempo, seja porque tem sempre
algo de renovado mistério.
Marte não é desse tipo. A obsessão pelo planeta
situa-se a meio passo do diletantismo, a meio da ciência amadora, a meio da
falta do que fazer. E se me perguntam por que tenho investido tanto tempo
vasculhando bibliografias e fuçando arquivos na internet, respondo, sem traço
de vergonha: não sei.
Jamais estive tão interessado em planetas
como agora, jamais escavei tanta informação avulsa nem fiz pesquisas randômicas
a partir de quase nada, motivado apenas por curiosidade, colecionando novidades
e esquecendo-as no instante seguinte. É menos que um hábito, mais que interesse
passageiro.