É uma das poucas vantagens da ponte velha que talvez outras pontes não tenham: avança não apenas no mar, mas também no tempo. Engole água salgada e todo o rejeito que ali chega através das canaletas de esgoto que vão se afunilando e afunilando antes de desaguar. É um banquete de reaproveitamento. Noutros casos, noutras pontes, o recuo não implica distanciamento e o distanciamento, recuo. A ponte velha, afastando-se da terra, ainda que destroçada, assoreada e esquecida, estreita laços com outra coisa que não sabemos. E assim estava naquela noite: uns poucos metros além de tudo que parecia excessivo, mas próximo o suficiente para saber que, da nascente até a porta derradeira, qualquer fuga é projeto destinado à falência. E falir, seja de que modo for, não é vergonha para ninguém. Empenhado em enxergar as coisas sob outra perspectiva e ao mesmo tempo mantendo certo cuidado para não forçar a mão na manobra, pecando por exagero, esperei a queima dos fogos, que durou apenas o
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)