Insisto com a caligrafia depois de tanto tempo, a letra torta ainda, o traço derreado, os arcos imperfeitos, retas curvas e curvas que não se completam. A letra inteira imprestável a que outro que não eu a leia e entenda. Mesmo eu, autor e leitor, tenho dificuldades de apanhá-la na mão após deitá-la no papel. Se volto apenas um dia depois, já não sei mais o que disse, frases inteiras como que emaranhadas, garranchos enredados sem que nada lhes dê feitio de inteligibilidade. Mas continuo, tenho de avançar. A prova está marcada para o fim do ano, até lá preciso consertar a grafia. A filha ajuda de vez em quando, faz de conta que é professora e passa a me dar lição sobre como melhorar o desempenho. Faça assim, papai, diz, caprichosa, para em seguida levar a mão à cabeça em desaprovação, um gesto teatral que faço apenas para que repita. De onde vem esse gesto, eu não sei. Tento lembrar de quando foi a última vez que escrevi de maneira límpida, que as linhas se sucederam sem atropelo na f
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)