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Mostrando postagens de fevereiro 12, 2019

Vai desculpando qualquer coisa

Está aí uma frase que sempre me intrigou – “Vai desculpando qualquer coisa”. Minha tia costuma falar quando lhe faço uma visita, ao fim da qual, depois de comer bolo e tomar café, sapeca com um misto de vergonha e orgulho: desculpa qualquer coisa, meu filho. Mas desculpar o quê? O café ou o bolo? Ou será que a tia se refere a alguma nódoa familiar que ainda desconheço, um crime muito grave até hoje mantido em segredo por todos e do qual eu devesse saber algo, mas continuo ignorante? Não sei. Cacoete linguístico, o “desculpa qualquer coisa” tem alcance maior, porém, a ponto de resumir a vida doméstica de qualquer família cearense: ao acioná-lo, é como se uma pessoa se confessasse e seus pecados como anfitrião, reais ou imaginários, estivessem expurgados. É, ao mesmo tempo, um pedido de desculpas por tudo e por nada, presente e futuro, que retroage aos últimos fatos, mas também avança no tempo e abarca a série de coisas que ainda podem acontecer – daí o “vai desculpa