Não há tempo, nunca há. Correr é melhor que dormir, levantar é melhor que deitar. Descansar nunca. Parar nunca. Prefiro estar a caminho, indo, vindo, voltando, transitando, trafegando. Ontem tinha tantas coisas, mas o tempo passou. E eu não disse. Pensei “Essas coisas ficarão comigo o tempo que for necessário”. Não ficaram. Foram-se. As coisas, se não as usamos, vão-se. As pessoas também. Vão-se quando não se sentem amadas, gostadas, queridas. E vão. Não voltam, vão. Não ficam, vão. Até as doenças se despedem quando o corpo não lhes cabe. Sim, até as doenças. Podem acreditar nisso? Podem acreditar em qualquer coisa. Até ontem tinha tanto, guardado aqui, ali, guardado. Tinha guardados, coisas que a semana inteira foi tecendo, que o dia se encarrega de dar liga, de dar guarida, de dar. Mas, à mercê das horas todas feitas de aperreio, não se apercebe da cadeira encostada a um canto da sala mal-arrumada. Na volta, a cadeira sumiu. Não está mais lá.