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Mostrando postagens de janeiro 31, 2023

O ChatGPT não sabe vaiar

  Numa entrevista fictícia com o ChatGPT, eu lhe faço perguntas triviais, tais como o que é “vergonha alheia” ou “biloto”, e lanço comandos inesperados e mesmo ilógicos, como a definição de “vaia cearense”, uma variante exótica do fenômeno pouco conhecida fora do estado. Como se trata de um suprassumo tecnológico, um Pinocchio maquínico, capaz de façanhas num piscar de olhos, sócio-majoritário de um sem-número de HDs de dados armazenados, suponho que, em algum cadinho de seu emaranhado algorítmico, haja uma solução para a minha indagação moleque, cujo propósito é não apenas medir o grau de conhecimento, mas de malícia. Afinal, máquinas sabem vaiar? A inteligência artificial, porém, se embaraça, tropeça nas palavras, alega estar em processo contínuo de aprendizagem, diz que em breve poderá ter todas as respostas a essas e outras questões e que sem dúvida o seu intuito é auxiliar, oferecendo informações precisas sobre quaisquer assuntos. Sei. Isso soa como qualquer adulto apanhado em f

Dialética do fã (2)

Fã ou “hater”? Pergunta-síntese da dinâmica virtual, a questão embute uma dualidade a partir da qual se organizam as vidas nas redes e para além delas, ou seja, uma troca que se dá em torno de um binarismo cujos pontos cardeais são, de um lado, o apoio incondicional (fã) e, do outro, o ódio cego (“hater”). Do amigo, do colega de trabalho e até mesmo das relações amorosas, exige-se hoje em dia essa espécie de contrapartida afetiva que prevê um vínculo sem arestas, feito todo com base numa adesão total que não aceita dissidência nem o mais remoto traço de crítica. “Meu (minha) namorado (a) não é apenas meu (minha) namorado (a), mas meu (minha) fã.” É-se fã de alguém como se é fã do Barcelona, de bolo de milho ou da Anitta, não havendo espaço para sentimentos conflitantes. O conflito, por si, é negativo, contraproducente e, sob o ponto de vista da gestão dos afetos, algo a ser evitado porque desorganiza o empreendimento social do qual se é sócio-majoritário e figura pública, como um CEO d

A Estação e o Dragão (2)

  A Estação é o novo centro do olhar e do fluxo cearenses, um espaço de alta frequentação e performance de classe num estado habituado a marcações de origem muito evidentes. Terra de cercadinhos, de puxadinhos VIP, de acessos restritos, de elevadores de serviço etc. Lugar de letrados, de ilustrados, de desfile dos signos de pertencimento e de distinção, de filiações e adesões, altamente carregado de um sentido de visibilidade, tanto por sua finalidade arquitetônica – é amplo e feito para isso, ou seja, para a exposição de obras de arte e também de seu público – quanto pela natureza das relações que se estabelecem ali. Mas nisso não há qualquer novidade, todo equipamento cultural, por mais democrático que se pretenda, tem sempre em sua entrada um guichê de cobrança de pedágio simbólico sem o qual os consumidores/cidadãos não têm acesso às experiências projetadas. A roupa, o público, a segurança, tudo seleciona antes de qualquer seleção, tudo barra antes de qualquer obstáculo físico efet