E agora que termino penso por um instante no nexo que fará juntarem-se coisas tão díspares. O pai, L, o restaurante e o aniversário da primeira namorada, que hoje comemora sabe-se lá que idade, mas é certo que festeja neste 16 de maio o nascimento. Eu não serei capaz. Estou faminto, tenho pouca energia pra raciocinar e estabelecer pontos de contato lógico entre o que quer que seja, sobretudo em relação a fatos que se passaram quando tinha 16 anos. Consigo, porém, distinguir um estopim ou gatilho – um elemento que desencadeia esse processo a partir do qual o fluxo se desprende e recua no tempo e avança e enxameia tudo com uma qualidade de agoniada incerteza. Desejamos sonho e beleza e mistério, mas mal pomos os pés na rua tudo que queremos é uma rede armada, lençóis trocados e uma tarde sem sol. O pai, L, o restaurante. Uma linha que nasce distante e chega ao dia de hoje. Não ontem ou depois de amanhã, mas agora. O peso, a ausência, a saudade, o irremediável. Constâncias.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)