Já disse isso outras vezes, começou a palestra, eu dormia na poltrona porque tinha seis pessoas ainda pra falar e só depois é que começaria a parte divertida, com bebida e comida e uma música tocando em volume alto, eu esperava que sim. O auditório tava lotado, muita gente da pós e uns grupos barulhentos da graduação. Já disse que a gente escreve pra tocar algum ponto, eu concordei mentalmente, e esse ponto ninguém diz qual é, continuei concordando. Até que fiquei ouvindo apenas, sem pensar nada, a voz dela como um carpete cobrindo o chão da sala. Escreve como mineração, escrever é principalmente uma atividade extrativista. Vejam que ninguém sabe onde está o mineral, então vamos cavando e martelando e quebrando, daí alguns pedaços de solo se desprendem mas ainda não é o que a gente procura, na verdade nem a gente mesmo tem certeza de como é de fato esse mineral que procura, exceto que precisa procurar e procura. Cava e cava, martela, martela, quebra, quebra, sop
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)