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Mostrando postagens de março 3, 2018

Ressaca do mar

É tentador tentar extrair qualquer tipo de lição das coisas aleatórias, sobretudo dos fenômenos cuja natureza escapa à disciplina. Feito a ressaca do mar, que repovoa ruas e calçadas com os restos de objetos que resolvemos deixar pra trás, seja por esquecimento, seja porque é preciso.  Garrafas, copos, talheres de plástico, trapos de guarda-roupa, pedaços de papel com inscrições já gastas. E, no entanto, basta um golpe de mar pra que tudo volte em ondas. Assim, como não olhar uma ciclofaixa soterrada e supor que os caminhos estejam obstruídos? Ou passar pelo letreiro novidadeiro de “Fortaleza” encoberto pela areia e não achar que vivemos numa cidade submersa, os pés enfiados nesse areal que nos prende ao chão? Por sorte há por ali também o São Pedro, não o santo das chuvas, mas o edifício. Carcomido, mas ainda sentinela. Testemunha ocular da varrição das águas, o edifício em formato de embarcação persiste montado nuns alicerces antigos, frágeis e firmes a um só tempo. O q