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Mostrando postagens de junho 23, 2016

Franzen x Almada

Selva Almada é incrível. Jonathan Franzen também. Recomendo ambos. Franzen reiterativo, pra variar. Aquela impressão de que não confia de todo no leitor, precisa dizer sempre mais - dizer enfaticamente. Precisa esquadrinhar. Daí que as páginas se avolumam e o livro se agiganta. Tem 600, mas podia ter menos caso se privasse de dizer sempre tudo em detalhes e explicar cada motivação ou fundamentar cada ação ou deixar bastante claro que o personagem X age assim porque foi abusado na infância ou abandonado pelo pai ou pela mãe ou por ambos. Acho que Franzen podia relaxar um pouco e deixar mais espaços em branco com que o leitor possa se divertir, não o tipo de divertimento que é se deixar conduzir sempre pela mão habilidosa do autor e o seu senso de humor sui generis. Falo do divertimento que Selva Almada proporciona, o de permitir que o leitor imagine cada coisa ou cada cena e a vida antes e depois de tudo que acontece. Franzen mata essa curiosidade. Ele se encarrega de

Três números

E talvez assim jamais passasse de quatro, cinco, nada além do proto, sequer ensaio, que requer certa noção de direção, uma suspeita de caminho, por leve que seja. Sequer isso. Dois, quando muito, forçando a barra, o ideal seria um mesmo e pronto, está acabada a obra, finalizada, basta que se lhe dê o tempo necessário para que... sei lá. Aconteça. Toda obra precisa de tempo pra acontecer. Talvez a dele exija todo o tempo do mundo, sendo a própria obra o transcurso desse tempo, apenas isso, o tempo escorrendo e a obra se desdobrando como uma toalha na mesa ou as cartas de um baralho. No máximo três, condescendeu, três e se não fala mais nisso, três é um bom número afinal de contas. De três não passaremos, e no três estacionamos por cerca de sete anos ou menos ou mais, mas dentro do três, convém dizer, havia uma infinidade de números. Cabia o mundo.

O breve, o incerto, o precário

Agora que saiu fico pensando se o melhor não seriam os tamanhos diminutos, esses espaços exíguos, as mínimas máximas, os pequenos intervalos nos quais nem percebemos quando algo acontece em vez do estirão de tempo-espaço à nossa frente à espera de preenchimento. Preencher é cansativo, aborrecido, enquanto o miúdo é uma espécie de dádiva. Talvez preguiça, talvez predisposição do tipo prefiro não fazê-lo. Talvez o pequeno arranjo seja o modo natural de estar no mundo a partir de agora. Não o prolongado de agonia continuada, o fixo, o duradouro, mas o precário, o incerto, o breve. As coisas menores não melhor que as maiores, apenas as que estão aqui e faz todo o sentido olhar e tomar entre as mãos e depois perceber que o caminho bem que pode ser por aqui, talvez seja, acho que será.