Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de janeiro 2, 2020

Rito

Era 29 de dezembro de 2018 quando escrevi: “No mar há um instante em que nenhum vento sopra, nenhuma onda quebra, nenhum mergulho se ouve. É essa a paisagem que vejo daqui”. Daqui era o lugar de então, um espaço movediço do qual falava naquele finalzinho de ano em que me recusei a fazer essa operação de olhar em torno e tentar apreender num só movimento o todo que me abarcava. Foi quando essa imagem se impôs, a do corpo flutuante, suspenso como se sem peso, parado em meio ao cenário de esgotamento numa travessia temporal, a passagem ritualística do calendário.  Atravessei o ano, cruzei-o inteiro e cheguei à outra margem. O mar agora é outro, as toneladas de areia e sedimentos jogadas mecanicamente por braços de tratores às vésperas da festa alteraram o caminho das correntes. As ondas não são as mesmas, tampouco a profundidade. Nele afunda-se tão logo metem-se os pés na água. As pás cavaram sem descanso nos meses que antecederam ao fim, deitando fora uma terra e deposita