Minha janela fica em frente ao aeroporto, mas dizer em frente não é muito preciso. Digamos que fica a alguns quilômetros do aeroporto e que daqui vejo os aviões decolando e pousando, escuto o som e me divirto imaginando os rostos na janela. Me divertir é exagero, me divirto mesmo é pensando que poderia estar viajando agora, neste momento. Se eu fosse outra pessoa e não a pessoa que sou vivendo a vida que vivo. Não tenho problema com a vida que vivo, apenas gosto de pensar que, lá nas alturas, a quilômetros de distância, tem alguém com o rosto colado no vidro olhando pra baixo, talvez pra mim, e a gente não se reconheça. Um dia, li que um boeing holandês tinha feito um pouso de emergência em Fortaleza. Parecia sério. Fiquei alarmado. Tudo que diz respeito a aviões e voos é alarmante. Leio turbulência e minhas mãos suam. Escrevo avião e tenho dor no estômago. Ironicamente, consumo muita informação sobre voos e aviões. É um modo de lidar com o perigo: estando perto. Quando e
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)