Depois do Ben
Lerner, avancei em “A amiga genial, mas fracassei vergonhosamente no novo
Vila-Matas, que me aborrece com tanto jogo e autorreferência, quando tudo que
eu queria era um dramazinho chinfrim sobre uma pessoa qualquer, e não um
escritor contemporâneo visitando a kassel e relatando tudo num registro entre o
ficcional e o real.
Um dramazinho
qualquer, sim, ainda que cercado das limitações, ainda que pobre de intenções e
desejos.
O drama da
idade, que seja, ou da doença e da distância. O drama da falta de dinheiro ou
da falta de amor. O drama do tempo escasso, do medo e da indiferença. O drama
da carência de drama, o drama do excesso, o drama da culpa e do arrependimento,
o drama da lembrança e do esquecimento.
O humano baixo,
exposto e maltratado, cansado e encurralado, feliz e impotente. O humano sem
resposta, que entende que a vida é isto, talvez um pouco mais, talvez um pouco
menos, e que o restante, o que um dia acreditamos que se tornaria real por
conta própria, à maneira mágica que idealizamos o futuro, depende de uma
combinação maluca de resultados.
O drama de
chegar até certo ponto, até certa idade, até certa altura. E acumular uma ou
outra vitória, um ou outro insucesso, sabendo que tem de continuar, ir em
frente. O drama de encarar uma máquina e esperar.
Chamo de
drama o que pode ser qualquer coisa. É drama apenas para consumo próprio. Podia
chamar cotidiano, trabalho, família, dia a dia, saúde, o tempo que se leva num caixa eletrônico, a hora do banho, a tarde de sábado e a volta da segunda-feira. Tenha o nome que tiver,
diz respeito à mesma coisa.