Fico com isso na cabeça de ir me servindo do próprio corpo, de ir afundando as unhas na carne e retirando camadas como se cortasse cebola, de ir mesmo até o sumo e lá deparar com nada, de voltar de mãos abanando porque sempre estive procurando, de estar como o menino a quem a mãe pedia que fosse até a mercearia e trouxesse isso e aquilo e de lá voltava só com a metade dos itens porque a outra metade tinha esquecido no caminho. Por trás disso está toda uma ideia enganosa de essência. Que levamos algo a algum lugar, que passeamos um punhado de noções muito charmosas e decentes a respeito da existência e do amor e de como as coisas se dão nesse intervalo entre vida e morte. Que temos muita coisa própria, que cada parte de nós fala uma verdade pessoal que expressa exatamente quem somos. Verdade: não temos nada. Não somos nada. Não testemunhamos nadica de nada, exceto o passar dos dias e a progressiva falência de tudo. Há quem veja nisso certo pessimismo, um gosto especial p
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)