Que se escreva não à noite, mas durante o dia, por alguém que acredite ser noite e não dia, que troque as horas e as luzes, que confunda claro e escuro e de vez em quando até nem veja diferença entre uma coisa e outra, estando e não estando, alguém cuja falta de capacidade para distinguir mudanças climáticas e pequenas alterações não seja um embaraço, um fardo, mas um motivo de alegria, um contentamento qualquer como dinheiro encontrado no bolso da calça dobrada no espaldar da cadeira. Um parágrafo assim, feito ao avesso, desengonçado, mais fabulação que história, mais acaso e desencontro que fio e caminho, mais lusco-fusco que meio dia ou noite já bastante avançada.
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)