Andou até o farol e lá de cima o que viu aqui em
baixo pareciam formigas, só que um pouco maiores. Aquele pedaço da cidade nunca
antes visto. Morava há 36 anos no mesmo lugar, vendo as mesmas ruas, as mesmas
pessoas, mas ainda hoje se espantava de que tudo fosse tão diferente. Podia ser
Fortaleza, mas também qualquer outro lugar.
Uma lista de locais que imaginava desconhecer
parcialmente ainda que já os tivesse visitado antes:
O cemitério de barcos.
A praia.
A praça central.
A igreja.
Um dia, passando de carro na avenida, tentou fixar
cada rosto na parada de ônibus. Uma dúzia de pessoas. Aonde iam, o que
esperavam, com quem falavam ao telefone? Sentiu novamente a vertigem de estar
diante da vida que escapa. Era uma imagem-clichê, dessas que palestrantes usam
nos auditórios quando querem impressionar uma plateia leiga.
Era a imagem a que recorria sempre. Porque era
simples, verdadeira e pessoal. Tudo acontecia fora dali, fora do que
considerava como sua vida. Uma nostalgia não do nunca vivido, mas do que era
vivido naquele instante, mas não por ele.