A vida degenerou em excesso de conteúdo, matéria-prima vazante que transborda por todas as latitudes, cada usuário o usurário de si mesmo, o explorador de sua própria mão de obra, da qual não extrai qualquer ganho salvo uma ou outra ninharia, com a qual se contenta ao final dessa jornada camusiana rumo ao abismo. Por que produz, então? Porque o horizonte é o da imediata monetização, da rápida conversão de toda experiência ou trivialidade no papel-moeda digital que estrutura a elaboração narrativa, alimentando-se a roda do engajamento dia e noite, seja no discurso textual ou no audiovisual (da propaganda ao cinema, passando pelo jornalismo). Disso são exemplares atualmente esses tantos vídeos com legendas, expediente cuja funcionalidade parece ter se perdido de vez. Antes empregadas para assegurar a acessibilidade, agora operam não mais como um apêndice, mas como um adorno da encenação que, de tão extravagante, acaba por ocupar toda a cena, esvaziando o sentido de qualquer lógica de tr
Leio que tal obra ou qual filme é não apenas atual, mas também necessário, de modo a enfatizar uma ideia já presumida quando se diz que um produto qualquer interpela o presente de muitas maneiras, ou seja, que é contemporâneo, naquele sentido atribuído por Agamben. O parafuso começa a dar mais uma volta, porém, quando, além de atual e necessário, o livro é também urgente – ou o filme, ou o espetáculo, ou aquele comentário certeiro na rede social e por aí vai –, o que faz de imediato acender um alerta laranja, que começa a piscar intermitentemente, produzindo apreensão e algum grau de histeria tendo como música de fundo um zumbido crescente. Ora, não bastassem a atualidade, predicado já de bom tamanho, e a necessidade, que dispensa comentários, visto que se impõe por si, havia de sobra essa urgência superlativa que desautorizava acréscimos, validada unicamente numa tautologia: era urgente porque se tratava de uma urgência, e a urgência, por sua vez, amparava-se na natureza explicitament