Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de setembro 3, 2015

Armas da infância

Todas essas charges são bonitas e comoventes, mas há um quê de impotência nisso tudo que azeda lá no fim. Quero gostar e me enternecer. Quero até chorar junto. É um modo de catarse coletiva. Serve mais aos vivos que aos mortos. Esbarro na agonia de saber que não passa disto: um gostar e enternecer com prazo de validade curto. Uma indignação perecível. Dura até a semana que vem ou antes. Fico pensando agora não na criança que morreu, mas nas que ficaram e no quanto elas ainda vão continuar à mercê da mesma tragédia, apesar de toda a dor e sentimentos de solidariedade que a morte de Aylan Kurdi causou no mundo inteiro. Chorar a morte e se indignar. Indignar-se com a falta de indignação. Hoje, quando cheguei em casa, minha filha dormia na mesma posição do garoto sírio encontrado morto numa praia turca: de barriga pra baixo, as perninhas inclinadas, o rosto enterrado no colchão do berço. Respirava devagar, as mãos estiradas e o peito subindo e descendo como um fole.