Pensei bastante na distopia de uma praia sem sol, sem jangadeiro, sem peixes, iluminada unicamente por lâmpadas de LED e acondicionada por refrigeradores de ar, pavimentada com piso de porcelanato e orientada por corrimãos e passarelas que levam diretamente ao estacionamento do superprédio onde vivem os supermoradores de uma supercidade feita para poucos. Nas salas espaçadas e agradabilíssimas dessas fortalezas pós-pandêmicas, superfamílias esperam uma superpizza que chegará em curtíssimo tempo levada por um empregado cujo salário não paga certamente o IPVA de um único pneu do supercarro desse superconsumidor. Uma praia cujas areias recenderiam a aroma de shopping center, aquele adocicado do azulejo de essência facilmente identificável e que se aspira a léguas de distância, um cheiro inconfundível que encapsula todo um projeto de vida e assegura o conforto de que, ali, finalmente, se está a salvo e em paz como no átrio de uma igreja medieval isolada da peste. Uma praia sofisticadamente
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)