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Mostrando postagens de fevereiro 9, 2013

Cenas de carnaval III

O vizinho grita alto, outro conversa com a empregada doméstica, é aposentado, branco, ela é negra, jovem e fumante, usa short bem curto, o vizinho tem o braço na tipoia, quer perguntar o que houve mas recua, não seria uma boa ideia parecer excessivamente condescendente, anda devagar no corredor sempre checando as moitas no terreno baldio cujo muro banguela não impede que os assaltantes da área saltem e dividam ali, debaixo das barbas de todo mundo, os despojos do roubo,  na última vez em que isso aconteceu ficou apenas olhando, fumando e olhando, acendeu dois cigarros em sequência, intimamente cogitou que tal ato pudesse endereçar aos contraventores uma mensagem subliminar explícita de intimidação, suspeitou até que os cinco rapazes correriam quando finalmente percebessem, “vejam, ali há um homem que não teme”,  ledo engano, escolheram o canto mais escuro do terreno e lá, obedecendo a critérios que não pode entender, agachados feito bichos, ratearam os objetos amealhados em algum pont

Cenas de carnaval II

Está numa caverna quando a primeira de uma série de criaturas estranhas aparece, ela carrega uma arma, de longe não vê qual arma, se revólver ou faca, à medida que se aproxima, porém, descobre tratar-se de uma lança, a criatura, um hominídeo horripilante, mostra os dentes num esgar cruel, num golpe de machado, então, decepa-lhe a cabeça, fazendo jorrar sangue por todos os lados. Acorda, vê que tinha dormido além das cinco horas programadas, prepara café, passa geleia numa bolacha salgada, liga o computador, checa mensagens, a primeira avaliação do dia, franze o cenho, abre cinco abas no navegador, duas de redes sociais e as outras três de jornais, começa a maratona que realiza todos os dias para se manter sempre informado, afinal é o seu trabalho, vive disso, depende de saber mais que as outras pessoas sobre muitos assuntos, mas nada tão aprofundado quanto fazem crer as postagens no Twitter, por exemplo, ou as conversas nas mesas de bar, quando aproveita para impressionar a platei

Cenas de carnaval

Com ar pesaroso, o garçom aponta a televisão e diz que a outra também foi mutilada, e por mutilada quer dizer que alguém ia passando na rua e resolveu apedrejar os dois aparelhos, aparentemente sem razão para tal, de maneira que agora o homem de cabelo cortado bem rente ao couro me encara como se buscasse investigar na minha incipiente reação facial o quão fundo aquela informação parecia ter batido, e qual não é a sua surpresa quando sorrio e digo sem medo de ser feliz “as pessoas ficam realmente possuídas na festa de Momo”, antecipando-me, portanto, à tentativa do garçom de talvez não procurar culpados, mas de checar as consequências da narrativa que acabara de contar, e foi nessa hora que, preferindo encurtar a conversa a continuar naquele jogo de gato e rato, pedi um prato executivo de filé à parmegiana, que é o que sempre peço naquele restaurante.