Escrevo durante o intervalo de sono de minha filha, um cochilo intermitente repleto de movimentos bruscos de pernas e braços e pequenos grunhidos de contrariedade disparados como flechas e só amenizados com leite e braço. Tudo em redor se regula por sua respiração. Mesmo os ritmos da casa, normalmente mais barulhenta, se alternam conforme as ondulações de seu corpo recém-nascido. Os gatos mais quietos, as cortinas pousadas em leveza, as portas em mansidão, os aparelhos em dormência. Quando dorme, dormimos. Quando desperta, é sobressalto. De repente, noto os seus cabelos muito pretos e a pele mais para o café. Lembro de minha avó, os olhos como duas esferas escuras agora cravados em mim, inquiridores, certos de que tenho alguma resposta, seja qual for sua pergunta. Levei esse novo do Zambra comigo pra maternidade como um objeto ao qual pudesse me apegar, reduzindo a ansiedade. Foi uma coincidência que o livro se destinasse ao filho, um romance epistolar que percorre o caminho de volta n
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)