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Mostrando postagens de outubro 11, 2017

Grafia

J voltou finalmente de viagem, trouxe um livro e me entregou. Um presente, falou. É um livro seu, assinado por ele, com data e letra caprichosa no canto superior. Penso em minha própria letra cursiva, hoje desfigurada, uma confusão de traços que tenho dificuldade de desatar quando preciso ler anotações que fiz durante a aula ou no meio da rua, para o trabalho. Sou jornalista, vivo de escrever e, por enquanto, não temos à disposição  o expediente   de registrar tudo maquinalmente. Ainda precisamos das mãos e dos blocos de papéis. Não há charme nenhum nisso, eu mesmo cuidaria em largar tudo e apenas ouvir, estar inteiramente concentrado no que o outro me diz, não escrever mas escutar o que me contam. E depois voltar pra casa repleto de histórias que guardaria pra mim. Sem essa intromissão da letra, da minha própria grafia misturando-se ao que é alheio. Por isso não escrevo mais o nome nos livros que compro ou ganho. Se ponho as letras lá, então é meu e o que sou atravessa a

A dúvida de K

K está do outro lado do país, num lugar mais frio, cinza, essas temperaturas que deixam o céu amuado e o humor oscilando junto com os termômetros. Ora feliz, ora triste, pensa em voltar, mas quando volta imediatamente se coloca numa posição de cansaço, sem disfarçar o desgosto, uma sensação de que perde tempo e vida, duas coisas que não se perdem mais, sobretudo agora, sobretudo hoje. Falo que em Fortaleza choveu pela manhã, uma chuva fina, triste principalmente porque na véspera do feriado, triste também porque agora e não ontem ou antes de ontem, quando os seus efeitos teriam sido atenuados por notícias alegres, o irmão que estuda, a irmã que está grávida, o livro que avança, sabe-se deus pra onde, mas o fato é que avança e ganha esses contornos próprios que as histórias resolvem assumir quando já não estão mais sozinhas. K festeja a chuva, fala que sente saudade, diz que quer ler mais sobre a água na sua cidade. Depois admite que gosta do que faço. E se cala. Eu ma