J voltou finalmente de viagem, trouxe um livro e me entregou. Um presente, falou. É um livro seu, assinado por ele, com data e letra caprichosa no canto superior. Penso em minha própria letra cursiva, hoje desfigurada, uma confusão de traços que tenho dificuldade de desatar quando preciso ler anotações que fiz durante a aula ou no meio da rua, para o trabalho. Sou jornalista, vivo de escrever e, por enquanto, não temos à disposição o expediente de registrar tudo maquinalmente. Ainda precisamos das mãos e dos blocos de papéis. Não há charme nenhum nisso, eu mesmo cuidaria em largar tudo e apenas ouvir, estar inteiramente concentrado no que o outro me diz, não escrever mas escutar o que me contam. E depois voltar pra casa repleto de histórias que guardaria pra mim. Sem essa intromissão da letra, da minha própria grafia misturando-se ao que é alheio. Por isso não escrevo mais o nome nos livros que compro ou ganho. Se ponho as letras lá, então é meu e o que sou atravessa a
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)