Há dias me vi tragado por essa espiral cuja vertigem é uma artista (uma cantora bilionária do norte global) que, não sei se por traço da adicção digital de hoje em dia ou de um milenarismo de rede, arrasta uma multidão predisposta a celebrá-la como marca e pessoa, como CPF e CNPJ, como criadora e performance de si ao mesmo tempo. Nesses momentos de transe ritual no qual se transformam as apresentações, que evocam eras como se o tempo entre uma produção e outra se processasse numa escala descolada do referencial terreno – o que colabora para a magnificação dessa ideia de grandiosidade a-histórica –, firma-se o que só pode ser entendido como uma fetichização da transcendência. A artista é consumida, e não somente sua música, como passaporte para esse outro mundo. Mundo menos material e mais folclórico, com filtros e texturas que imprimem a sua existência uma camada esotérica e impalpável. A indústria cultural, como campo autônomo e produtor de símbolos que se replicam como memes facilm
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)