É inexpressiva a fatia da população cearense que percebeu, até agora, que o refrão “Vó, tô estourado e meu avô é o culpado” evidencia uma troca inusual de papéis familiares. Por trás da métrica livre dos versos do forró, há a sugestão de mudança nos costumes: sai a figura da avó permissiva, cuja proposta pedagógica, fundada no anarquismo e no princípio do laissez faire, laissez passer , tem o condão de mimar em excesso os (as) filhos (as) dos filhos (as), estragando-os (as). No lugar, entra o avô galhardo, desmantelado, raparigueiro, irrecuperável biriteiro. Esse avô hipotético de que fala a música não teve grande problema em se desincumbir da responsabilidade de ser o mantenedor de certa reserva ortodoxa no trato com os assuntos da casa. É o que é: agente da profanação dos hábitos, e se ressente de não ter podido aproveitar mais a vida. Propagandeada em outdoors da cidade, a canção Vó, tô estourado , da banda Forró Movimento, tira proveito dessa situação-limite. Murmurada
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)