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Mostrando postagens de maio 11, 2014

Pedra fora de foco

Como podem ver, esse na foto sou eu com a minha mãe, a minha mãe está segurando um livro e nesse livro há a história de uma baleia que se refugia em algum ponto do oceano, a baleia foge ou ataca pescadores, ou é um golfinho. No começo minha mãe dizia que golfinhos e baleias eram irmãos ou primos. Tudo bem, eu dizia. Se puderem esticar um pouco o pescoço e mirar bem no fundo da imagem, atrás das árvores tem uma sombra projetada por uma rocha que não aparece na foto. No começo, quando não entendia nada, achava que meu pai estava naquela sombra. Mas ele tinha ido apenas trabalhar ou dormir noutro canto ou coisa assim. Minha mãe não gostava de falar das sombras nem de estar nas sombras, além do mais como aparecer nas fotos escondido atrás das árvores? Quem quer aparecer sorrindo numa foto renuncia não apenas à sombra, renuncia também a uma série de coisas que continuam a existir quando a gente esquece que essa fotografia é uma mentira. As fotos mentem tanto quanto

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Tudo bem, era mentira a historinha da banalidade, a sensação bovina de que nada se move e nesse nada as coisas baralham umas às outras, é uma grande mentira, há a superfície, esse céuzinho - céuzinho tem acento? Há esse pequeno céu azul tremulando de tão límpido acima das cabeças e das poças de cuspe que vou encontrando e recolhendo da rua como um catador de latas de refrigerante. Não sei vocês, mas tenho uma relação balcânica com as poças de cuspe. Estou com mania de usar balcânico e seus derivados (balcanizou, balcanizado etc.) em tudo, na lida diária, no trabalho, na vida sentimental. Uma hora toda vida sentimental se balcaniza, ou seja, vira uma praça de guerra. Ou ainda: uma geografia acidentada, esculpida em colinas e vales e corredeiras e rios etc., e nela soldados aliados e inimigos se enfrentam numa batalha encarniçada pelo controle de nada.   Não há dias banais nem excepcionais nem os presentes me desgostam tanto quanto as roupas velhas e os tênis velh