Devendo qualquer coisa por escrito para o final do ano, quando as esperanças se renovam por decreto, os laços deteriorados se restauram e as licenças fazem morada no afeto, ódios cultivados suspendem atividade até o retorno da natureza ordinária das horas, diferenças guardam silêncio e afinidades ganham status de amor, cartões assumem ares de manuscrito e cartas manuscritas não têm tradução. Tempo em que as mensagens de boas novas atingem níveis surpreendentes de cinismo e indiferença, época de abraço farto, abundância de selinho, elevada dosagem de carinho e relativo aumento do volume da farofa socada goela abaixo do peru. Período de exílio, esconderijo, brincadeiras pouco populares entre pessoas felizes, saudáveis social e financeiramente. Venho adiando sistematicamente qualquer balanço, quem sabe aos 80 anos ceda ao apelo e finalmente elabore uma listinha supimpa de coisas que ainda restam a fazer, faltas projetadas para os 30 anos seguintes, tais como: tirar carteira de motor
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)