Era isso, eu queria ir em frente, mas não sabia de nada. Eu queria outra vida, mas não sabia qual. Eu queria estudar, mas não havia escolhido o quê. Eu queria livros, mas não tinha dinheiro. Eu queria viajar e morar numa comunidade alternativa em Minas Gerais e fazer o caminho de Santiago de Compostela com minha primeira namorada, mas tive de me contentar com um emprego de entregador de pizza das 16h às 22h em troca de um salário cuja metade eu gastava com romances e a outra metade eu não sei exatamente o que fazia, mas juro que não era tanto assim a ponto de eu poder fazer uma farra. No barco eu me sentia como se de volta à sala, de volta a antes de fazer essas escolhas, uma pequena transgressão do tempo. Mas agora era diferente porque eu não tinha ninguém que me interrompesse. Podia ficar ali o tempo que fosse, sair e voltar, andar pela popa e a proa devastadas pela maresia e ferrugem e observar por quantos dias desejasse o movimento contrário. As ondas quebrando contra o metal que
HENRIQUE ARAÚJO (https://tinyletter.com/Oskarsays)